Senhoritas destaca angústias da terceira idade no Cine-PE
Dúvidas, vontades e descobertas de uma aposentada conduzem filme de ficção.
atualizado
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Recife — Já vimos incontáveis filmes sobre a infelicidade de uma personagem que aparenta ter tudo e, portanto, deveria ser feliz, mas não um como este apresentado na 3ª noite do festival Cine-PE, chamado Senhoritas.
O foco é, quase que exclusivamente, em personagens da terceira idade. Lívia (Analu Prestes) é uma arquiteta aposentada que vive bem com seu marido Rui (Genésio de Barros), em uma casa bem decorada, cheia de obras de arte — indício forte de que a condição dos dois é boa. Os dois recebem visitas periódicas da filha Cora (Clarissa Pinheiro), do cunhado Rômulo (João Como) e da neta Nara (Valentina Clause).
Tudo vai bem, embora a vida sexual deixe um pouco a desejar. É aí que Lívia reencontra Luci (Tânia Alves), amiga de infância que se mudou, ainda jovem, para Buenos Aires.
A amiga, uma faísca de vida e libertinagem, expõe em Lívia uma insatisfação profunda com a maneira como vem vivendo. Parece uma história que já vimos e, de certa forma, a trama é assim — só que o roteiro da diretora Mykaela Plotkin está muito mais interessado em nuances e sentimentos do que em arcos e personagens com arquétipos batidos.
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Lívia, logo vemos, não é alguém com grandes inimizades na vida. Sua necessidade de explorar e se libertar não vem de um casamento sufocante ou de filhos dependentes dela. A cena mais explícita de desconforto vem do momento em que a filha começa um novo trabalho e pede que os pais cuidem de Nara nos períodos da tarde.
“É pra isso que estamos aqui”, responde o avô, sem consultar a esposa. No rosto de Lívia, um registro de desconforto. Mas, em cenas seguintes, o próprio Rui se mostra disposto a ficar com a neta, e Lívia não perde nenhuma das aulas de dança que faz (escondida).
Reforçado por interpretações de entrega absoluta, Senhoritas desfila pelos assuntos que muitos tratam como tabu, especialmente nas brincadeiras sexuais e na exibição de corpos amadurecidos nas telas de cinema. O que o filme tem de melhor é a recusa de armar respostas fáceis ou conflitos forçados, dependendo muito mais dos relacionamentos afáveis entre seus personagens. É um tempo que, como espectadores, gostamos de ar com eles.